ORIGENS DO RITUAL MAÇÔNICO
– 1ª Parte -
A
Maçonaria dividiu-se em vários ramos, ou tendências, ou obediências, conforme
cada um o entenda, principalmente depois do século XVII. Por este motivo hoje
conhecemos um sem número de tendências ou Ritos. Não vou aqui descrever esses
Ritos porque a explicação pode ser encontrada facilmente na Internet, onde há
vários “sites” com explicações bem pormenorizadas.
O
fundamentalismo religioso cristão tem considerado desde sempre a Maçonaria como
seu inimigo principal. Por este motivo, durante muitos séculos os seus membros
reuniam-se secretamente, assim como a identidade dos que se reuniam só era
conhecida deles mesmo. Hoje já não há muita necessidade desse secretismo mas,
mesmo que seja por tradição, a Maçonaria continua a ser uma organização que se
diz secreta, embora os seus membros e dirigentes sejam conhecidos, senão da
generalidade do público, pelo menos daqueles que se interessam por estes
assuntos.
Na
origem da Maçonaria não existia secretismo, mas sim exclusivismo, quer dizer,
no Antigo Egipto os Mistérios Interiores era reservados a uma elite escolhida
pelos membros de cada Escola de Mistérios. Os Mistérios Exteriores eram
dedicados ao público em geral, o qual assistia aos rituais realizados no
exterior do templo. Nos Mistérios Interiores, participava apenas essa elite e
realizava-se no interior do templo sem acesso ao público. Foi assim que muitos
dos sábios e filósofos gregos foram iniciados nas Escolas de Mistérios do
Antigo Egipto.
O
secretismo começou a tornar-se necessário logo nos primeiros tempos do
Cristianismo, longe estava ainda a Maçonaria de ser conhecida por esse nome.
Como já vimos em crónicas anteriores, os gnósticos foram os herdeiros das
Escolas de Mistério do Egipto, as quais tinham entrado em decadência depois da
invasão de Alexandre Magno, cerca de 320
a.C. A pouco e pouco os grupos gnósticos foram resguardando os
ensinamentos das antigas Escolas de Mistérios, transformando-os num movimento
interno que veio a desaguar mais tarde no Cristianismo ou, na busca do Cristo
interior através da Gnose. Mas o Cristianismo Gnóstico sofreu logo de início a
perseguição dos que começaram a formar as várias igrejas impondo a sua visão
literalista do Cristianismo. Foi o fanatismo que estabeleceu os alicerces da
nova religião, que se fixou definitivamente com o imperador Constantino.
Apesar
da liberdade de que hoje desfrutamos no mundo ocidental, em que cada um é livre
de seguir a crença ou filosofia que entender e que estiver de acordo com o seu
íntimo, o fanatismo continua vivo e actuante, arregimentando milhares ou
milhões de pessoas às suas ideias. Foi assim que dei com um “site” na Internet,
aparentemente com largos milhares de aderentes e defendendo as doutrinas
evangélicas, que logo no título dizia: “Maçonaria, o Braço Direito do Diabo –
Desmascarando essa Filial do Império das Trevas”. E depois acrescentava:
“Maçonaria: Ramificações: AMORC, Lions Club, Rotary Club, De Molays, Shrines,
The Daughters of the Nile, Amaranth, Estrela do Oriente, Grotto, Cavaleiros
Templários, Rito de York, Rito Escocês, Illuminati, P2, Skull and Bones, Ordem
do Dragão.” O resto do texto é um conjunto de argumentos baseados nos
evangelhos, dos quais faz inúmeras citações, atribuindo à Maçonaria e aos
grupos acima indicados, todos os males do mundo. Para essas igrejas Jesus é
Deus, ou o Filho de Deus encarnado na Terra, quando o próprio Jesus recusou
essa condição: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus
respondeu: “Porque me chamas de bom? Só Deus é bom, e ninguém mais” (Marcos
10-17). Um “site” a evitar para quem quiser manter uma certa saúde mental e
psíquica.
Evidentemente
que qualquer pessoa com um pouco de lucidez vê que se trata de uma manifestação
do fanatismo mais primário, além de que, mistura indiscriminadamente no mesmo
saco organizações de natureza diferente. Isto não causaria nenhuma preocupação,
apenas um sorriso pela ignorância das pessoas que escrevem no “site”, se esses
mesmos indivíduos não estivessem a fazer todo o possível por atingir lugares
proeminentes a nível governamental em alguns países.
Mas
mesmo a Igreja Católica, apesar da tentativa de abertura que constituiu o
Concílio Vaticano II, considera que pertencer à Maçonaria é incompatível com a
doutrina da Igreja e que os católicos que se inscrevam em qualquer organização
maçónica, depois de saberem a posição da Igreja, incorrem em grave pecado. O
Documento da Congregação para a Doutrina da Fé, com data de 26 de Novembro de
1983, e que trata da atitude oficial da Igreja frente à Maçonaria, utiliza a
expressão "associações maçónicas", sem distinguir uma das outras. Diz
que é vedado a todos, eclesiásticos ou leigos, ingressar nessa organização e
quem o fizer, está "em estado de pecado grave e não pode aproximar-se da
Sagrada Comunhão".
A
influência da Maçonaria na nossa sociedade ganhou maior relevo depois da
Revolução Francesa, em que a Igreja foi perdendo terreno à medida em que se
atingia uma maior liberdade. Sob o lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” o
mundo se foi transformando, as monarquias foram-se despojando do seu poder
absoluto, algumas foram substituídas por repúblicas, muitos países conquistaram
a sua independência, como os EUA e os países da América do Sul. No entanto, a
atribuição à Maçonaria desse lema é errónea, como é errada também a atribuição
à Revolução Francesa, cujo lema era “Liberdade, Igualdade, ou a Morte”. Também
se atribuiu a criação desse lema a Louis-Claude de Saint-Martin, o que também é
errado. Esse lema é bem mais antigo e não se sabe, exactamente, qual a sua
origem.
Atribuem-se
à Maçonaria, através do seu braço armado, a Carbonária, muitos atentados à
bomba e assassínios, especialmente contra figuras monárquicas, dentre os quais
o atentado que vitimou o rei D. Carlos de Portugal, em 1 de Fevereiro de 1908,
prelúdio da revolução que iria instaurar a República em 1910.
Embora
alguns elementos da Maçonaria tivessem ligações com a Carbonária, esta não é,
nem nunca foi o braço armado daquela. Era e é, porque ainda existe, uma
organização independente, cujas acções por vezes, embora de forma brutal,
correspondiam a objectivos da Maçonaria. Nestes objectivos estariam, por
exemplo, a abolição da monarquia em alguns países. É interessante ler um texto
notável de Fernando Pessoa, insurgindo-se contra uma proposta de lei que visava
a proibição das sociedades secretas: “Ora no nosso país, caída há muito em
dormência a Ordem Templária de Portugal, desaparecida a Carbonária – formada
para fins transitórios, que se realizaram –, não existem, suponho, à parte uma
outra possível Loja Martinista ou semelhante, mais do que duas associações
secretas dessa espécie. Uma é a Maçonaria, a outra essa curiosa organização
que, em um dos seus ramos, usa o nome profano de Companhia de Jesus,
exactamente como, na Maçonaria, a Ordem de Heredom e Kilwinning usa o nome
profano de Real Ordem da Escócia”. Talvez a figura mais notável pertencente à
Carbonária, terá sido Giuseppe Garibaldi, de cujas acções foi unificada a
Itália e o Vaticano deixou de ter poder sobre a cidade de Roma.
A
acusação de ateísmo que é feita, na generalidade, à Maçonaria, deve-se à
existência de algumas organizações maçónicas que se dizem ateias. Não se
percebe muito bem com o é que se pode ser ateu a actuar num recinto sagrado
efectuando rituais e se reportarem ao G.A.D.U. (Grande Arquitecto do Universo).
É verdade que essas organizações não são hoje mais do que grupos de tráfego de
influências, o que acontece também com algumas das organizações não ateias. No
entanto, apesar dos condicionalismos do mundo de hoje, em que o profano se
impõe ao sagrado, existem ainda organizações maçónicas fiéis aos seus
princípios milenários de grande espiritualidade.
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